Chefe de polícia da cidade de Paris
Autoria: Angélica A. Silva de Almeida
Allan Kardec escreveu essa carta para o chefe de polícia da cidade de Paris provavelmenteno ano de 1858, solicitando autorização para que o “Círculo Parisiense de Estudos Espíritas” realizasse reuniões enquanto aguardavam a obtenção da autorização regular para se constituírem em sociedade.
No livro Obras Póstumas Kardec descreve o processo de fundação dessa associação que receberia o nome de “Sociedade Espírita de Paris”:
“1º DE ABRIL DE 1858 (…) menciono, para memória, a fundação da Sociedade, por causado papel que desempenhou na marcha do Espiritismo, e das comunicações ulteriores às quais deu lugar. (…) tinha em minha casa, rua dos Martyrs, uma reunião de alguns adeptos, todas as terças-feiras. O principal médium era a Srta. Dufaux. Se bem que o local não pudesse conter senão 15 a 20 pessoas, às vezes nele se encontravam até 30. Essas reuniões ofereciam um grande interesse pelo seu caráter sério, e a alta importânciadas questões que ali eram tratadas; frequentemente, viam-se ali príncipes estrangeiros e outras personagens de distinção. O local, pouco cômodo pela sua disposição, evidentemente, tornou-se muito exíguo. Alguns, dos frequentadores, propuseram se cotizar para alugar um mais conveniente. Mas, então, tornava-se necessário ter uma autorização legal, para evitar de ser atormentado pela autoridade. O Sr. Dufaux, que conhecia pessoalmente o Prefeito de polícia, se encarregou de pedi-la. A autorização dependia também do Ministro do Interior, que era então o general X… que era, sem que o soubéssemos, simpático às nossas ideias, sem conhecê-las completamente, e com a influência do qual a autorização que, seguindo uma fieira comum, teria exigido três meses, foi obtida em quinze dias. A Sociedade foi, então, regularmente constituída (…)” (1)
Na busca da identificação do destinatário desta carta, percebemos que no ano de 1858 houve dois prefeitos de polícia da cidade de Paris. Como a Sociedade Espírita de Paris foi fundada em 01 de abril de 1858 e a autorização para seu funcionamento “foi obtida em quinze dias”, achamos mais provável que Kardec tenha endereçado a carta ao Sr. Symphorien-Casimir-Joseph Boittelle que exerceu esse cargo de março de 1858 até fevereiro de 1866. Mas, como a carta não possui a data exata em que foi escrita, não podemos dizer com precisão quem era o chefe de polícia naquele momento. Então, optamos por elaborar duas minibiografias, a do Sr.Pietri, que foi prefeito de polícia de 1852 a fevereiro de 1858 e a do Sr.Boitelle, que ingressou no cargo após a saída do Sr. Pietri.(2,3)
Pierre-Marie Pietri (4)
O Sr. Pietri nasceu no dia 23/05/1809 em Sartène (Córsega) e faleceu no dia 28/02/1864 em Paris. Estudou Direito na faculdade de Aix-en-Provence. Em 1831, começou a advogar num escritório de Paris. Em fevereiro de 1848 tornou-se comissário do Governo Provisório na Córsega, mas renunciou em abril do mesmo ano. Foi eleito membro da Assembleia Constituinte em 1848, permanecendo até 1849. Exerceu diversos cargos como: prefeito de Ariège, prefeito de Haute-Garonne, prefeito de Polícia de Paris (27 de janeiro de 1852), empossado senador em 1858, mas manteve as funções de prefeito de polícia e foi oficial da Legião de Honra. Permaneceu no cargo de prefeito de polícia até sua renúncia após o atentado em que Felice Orsini, um revolucionário italiano, praticou contra o Imperador Napoleão III em 14 de janeiro de 1858. Em 1859, foi nomeado comissário do governo francês para a anexação de Saboia. Foi responsável pela administração do departamento de Gironda e presidente do Conselho Geral da Córsega. (3,5,6,7,8)
Symphorien Casimir Joseph Boittelle (9)
O Sr. Symphorien Boittelle foi um administrador e político francês que nasceu no dia 23/02/1813 em Fontaine-Notre-Dame (Norte) e faleceu no dia 22/11/1897 em Paris. Iniciou a carreira militar na Escola Militar Especial Saint-Cyr (12) em 1833, alcançando o posto de segundo tenente (1835) e de tenente (1840). No entanto, seu comportamento belicoso dificultou seu avanço na carreira e ele teve que deixar o exército em 1845. Após a instauração do Segundo Império na França por Napoleão III, exerceu vários cargos na administração: foi nomeado subprefeito de Saint-Quentin em 1852, prefeito de Aisne em 1853 e de Yonne em 1856, e Prefeito da Polícia da cidade de Paris, após o atentado praticado por Felice Orsini e a consequente renúncia de Pierre-Marie Pietri em 1858. Ocupou este cargo por oito anos (1858-1866), acumulando-o com a direção geral de Segurança Pública. Nesta função, contribuiu para a política repressiva de Napoleão III liderada pelo General Espinasse (que, ao que tudo indica, era o general X citado por Kardec no trecho de Obras Póstumas transcrito no início deste verbete) e seus sucessores no Ministério do Interior. Em 1866, foi nomeado senador por um decreto imperial. Com a queda de Napoleão III perdeu a sua cadeira de senador em 1870, aposentando-se em 1874.(1, 10, 11, 13, 14, 15)
Referências
(1) Kardec, Allan. Obras Póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 1993 (1890), p. 264-265.
(2) http://www.sfhp.fr/index.php?post/2011/03/22/Notice-biographique-Symphorien-Boitelle
(3) https://www.senat.fr/senateur-2nd-empire/pietri_pierre_marie0242e2.html
(5) http://www.sfhp.fr/index.php?post/2011/03/14/Notice-biographique-Pierre-Marie-Pi%C3%A9tri
(6) https://catalogue.bnf.fr/ark:/12148/cb13316166z
(7) Canelas, Leticia Gregorio. Franceses ‘quarante-huitards’ no império dos trópicos (1848-1862). Orientador: Cláudio Henrique de Moraes Batalha. 2007. 210 p. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.
(8) Taylor, A. J. P. Política Internacional. Vol. 1, N° 9, Outono 1994. http://www.ipris.org/files/9/02_Retratos.pdf
(10) https://francearchives.fr/fr/facomponent/1409117f015b72ba3ce9be17f7f96a63ddf5c65b
(11) https://data.bnf.fr/fr/10543694/symphorien_casimir_joseph_boittelle/
(14)http://www.sfhp.fr/index.php?post/2011/03/22/Notice-biographique-Symphorien-Boitelle
(15)https://francearchives.fr/fr/facomponent/1409117f015b72ba3ce9be17f7f96a63ddf5c65b